domingo, 6 de janeiro de 2013

Do falso senso crítico contemporâneo

Não é recente o caso de falsos estudiosos que vem passando uma série de informações imprecisas, seja por hipóteses infundadas pelo evolução do estudo (da qual somos inevitavelmente todos vítimas, já que a ciência nunca bate o martelo em nenhum assunto) ou por pura negligência. Esse segundo caso é o mais grave e infelizmente também é o mais observado atualmente.

Frente ao advento da internet e posteriormente das redes sociais, as pessoas começaram a ser capazes de expressar opiniões a nível global sem precisar sair do conforto de seu lar. Conforme o passar dos tempos, várias pessoas foram gerando dados que lhes vinham à tona ou simplesmente não possuíam o devido fundamento lógico, e por tal foi surgindo algo que acabou se tornando um dos males do século XXI: o falso conteúdo.

Existe um fenômeno cognitivo de comportamento, descrito por psicólogos como efeito Dunning-Kruger. Trata-se de uma situação em que determinada pessoa se considera informada sobre um assunto da qual é leiga, porém acaba por transmitir falsas informações a outro indivíduo que também não conhece do assunto, que por sua vez acredita na falácia. É uma coisa natural que pode acontecer a qualquer pessoa (confesso que já fui vítima dessa desordem).

Segundo os próprios Dunning e Kruger, as pessoas que se acham especialistas no assunto, mas não tem a coerência dos fatos apresentam quatro comportamentos típicos: superestimam sua própria “habilidade”, não reconhecem a genuína habilidade dos outros, não reconhecem a gravidade de seu engano e por fim, quando instruídos de maneira correta (em geral sob evidências e provas) admitem sua falha, total ou parcialmente (via Blog Modus Digitali).

Uma metáfora que pode transmitir bem o que a premissa do fenômeno tenta explicar é a brincadeira do telefone sem fio. Imagine uma corrente de pessoas lado a lado, onde em um extremo o primeiro jogador passe uma informação a seu companheiro ao lado. Este por sua vez passa a informação ao próximo, e assim por diante. Acontece que existem várias maneiras de interpretar uma informação, e consequentemente esta vai se modificando ao longo da corrente, até que uma pessoa que ouviu pouco da outra comece a formular suas próprias idéias do assunto, que por vezes possam parecer ter fundamento lógico, mas de fato não há.

A internet virou lar de vários “especialistas” e com o passar do tempo só tende a piorar. Na última década, a pior raça desse tipo de pessoa começou a surgir pelos comentários e até mesmo postagens de blogs, redes sociais, vídeos e etc.: os pseudo-críticos. Trata-se de um grupo de pessoas que formula várias idéias sobre um determinado assunto, porém não possui a coerência de usar do raciocínio, apenas pelo fervor de criticar algo. Muitos se aproveitam do anonimato ofertado para abusar das palavras na pior maneira que existe, comentando baboseiras, ofendendo e ameaçando.

Um ótimo exemplo é o que eu acabei encontrando na rede social do momento: o facebook. Trata-se dos críticos “roqueiros”, cuja finalidade principal é atacar os movimentos musicais brasileiros do presente: o funk carioca, o pagode e o sertanejo universitário. É certo que uma pessoa tem todo o direito de criticar algo que não goste, e também reconheço que também de nada me agradam algumas letras ou mesmo as melodias desses estilos. Porém o que acontece é que muitos gostam de falar mal, mas para isso vestem uma camisa de algo que nem faz idéia do que possa realmente representar. Este tipo de pessoa é a pior que existe, pois além de criticar o gosto musical de alguns ainda por cima se considera um fã de AC/DC, só porque ouviu Highway to Hell num filminho qualquer e gostou, ou é fã de Guns N’ Roses porque a trilha sonora do seu jogo de vídeo-game era Paradise City. Não digo que é ruim a introdução das músicas nesses meios de divulgação, au contraire. Até admiro que as pessoas passem a gostar de algo por meios próprios. Porém se este indivíduo se apegar a somente uma música, ou até mesmo só uma banda e não goste das outras músicas que são do mesmo estilo não faz sentido sair por aí criticando demais estilos musicais (que certamente são de agrado de alguém, caso contrário não faria sucesso) sob um semblante falso de algo que não lhe é conivente (ou seja, “pagar de roqueiro”). Novamente, a mim também podem não me agradar algumas letras, mas eu respeito cada um que goste (desde que não ligue uma caixa de som ou algo do tipo na minha orelha).

Concluindo a opinião, a internet de hoje está apresentando um conteúdo que não se aparenta muito decente. É uma decadência constante que é observada em várias outras coisas, como filmes, músicas e até mesmo em livros, e parece ser inevitável e contagiosa. Talvez seja o resultado do que já foi discutido anteriormente sobre a teoria conspiracionista idiocrática, mas só o tempo dirá.

4 comentários:

  1. Curti pacas esse post vei...e desculpe só comentar hj, aqui o tempo para infernet é escasso mesmo, estou sem note, e uso o do meu primo...
    A questão é a seguinte...na era da informação, a informação de qualidade esta em baixa, justamente por aquilo que você comentou Paulão, as pessoas hj podem escrever o que quiser, publicar o que der na teia, pois td isso esta ao alcance dela...
    Publicar um livro??? É mais fácil escrever um texto e publicar no facebook.
    A grande problemática é que as pessoas não precisam mais correr atrás de informações verdadeiras, para publicar algo, um livro acabou por perder seu devido (e necessário) valor, hoje com a chegada do google.
    Infelizmente essa é uma realidade evidente no mundo atual, com toda essa tecnologia "mecanizadora".

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  2. é uma discussão complexa, com vários pontos que podem ser abordados. Concordo com muita coisa que vc escreveu. Para começarmos a entender o problema devemos pensar no que a internet mudou o mundo. Basicamente em duas coisas: agora praticamente qualquer informação está mais fácil e rápida de ser conseguida (não faz muito tempo, vc teria que ir em uma biblioteca, agora só precisa usar um cel com acesso à internet); e qualquer pessoa pode postar suas idéias e opiniões para todos verem (sem dizer o quanto isso era dificilimo alguns anos atrás).
    Quando se ia a uma bilioteca pesquisar sobre vacas, até encontrar algum livro ou revista que respondesse a questão, vc topava com vários outros, e tinha que anotar tudo. O processo era mais lento, mas o aprendizado, com menos informações, era mais efetivo. Agora simplesmente não há dificuldades e um ctrl C ctrl V resolve a questão da memória e da reflexão, infelizmente. Penso que é uma questão de se dosar o melhor dos dois mundos, mas é complicado para quem não teve a experência de alcançar o conhecimento através de "sangue, suor e lágrimas." Meus alunos perguntam pra mim pq é tão raro que se permita que usem computadores ou cels para pesquisa e respondo que eles ainda nao aprenderam a usar livros e cadernos, como querem passar pro próximo nível?
    Com relação ás opiniões postadas por todo mundo, mesmo os pouco versados sobre o assunto, considero, em princípio, algo positivo. Como vc mesmo postou no início, mesmo a ciência não encerra as questões, portanto, alguém muito douto sobre algum assunto pode estar errado e alguém, mesmo que poruco formado, podeestar certo, mas isso só se vai descobrir na dicussão. O problema é que muitos não sabem discutir e partem para atitudes mencionadas. antes eu pensava que, talvez, fosse melhor os especialistas cuidarem dos diversos assuntos, cada um na sua área. Hj percebo que isso não seria possvel e nem desejável.
    As redes sociais permitem que pessoas que gostem de assuntos afins possam se encontrar e trocar idéias e experiências com maior facilidade que alguns anos atrás. se vc gostava de miniaturas, morreria muito antes de conseguir encontrar outra pessoa que tbm goste. Agora, basta acessar a internet. o mesmo vale para as coisas que não gostamos. Se vc não gostava de algo, teria dificuldades de encontrar algo com a mesma opinião, hj, não. infelizmente, quando tais grupos se formam (num primeiro momento é algo positivo) pode acontecer de haver uma radicalização do pensamento (nem sempre é ruim e, algumas vezes, necessário), mas pode acontecer muitas consequencias negativas a partir daí.
    Acredito e espero que as pessoas aprendam a utilizar a internet da melhor forma. Ao mesmo tempo, sou contra qualquer forma de contorle (muitos governos, inclusive o nosso, estão tentando criar maneiras de barrar a livre circulação de idéias pela internet, com argumentos muito parecidos com oque vc usou no texto).
    Nada deveria mudar: se vc não concorda, que possamos debater. Se disser algo que não pode provar, que seja punido na forma da lei. Mas censura não. A não ser, é claro, que eu concorde com o censor...kkkkkkkkk

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  3. Pois é, Flavio. É bem isso mesmo. A era tecnológica está abolindo aos poucos a literatura de qualidade, mas não dá pra generalizar, visto que possui uma gama de websites que possuem um bom conteúdo e alguns até mesmo com base em fontes confiáveis, além dos sites de instituições renomadas (por exemplo, eu mesmo tiro base dos meus trabalhos em sites como Embrapa e Iapar).

    Sim, Vini. Bem colocado!

    A internet veio no intuito de deixar as coisas a nossa mão, e posso ver ela como uma potencial ferramenta de ensino e/ou informações e debates (por tal to aqui ajudando o Flabosco no blog). Porém, não é o que acontece hoje em dia. A internet virou muito mais um lugar de lazer do que um lugar para informação. Há um bom tempo eu vi em um artigo (de fonte que não me recordo) que a cada seis domínios da internet, cinco eram sites pornográficos. Atualmente esse índice não deve ter sofrido muitas alterações.

    Não vejo isso como a principal barreira. Afinal todos nós utilizamos da internet como um local de descontração - ao menos eu. Mas o que quis debater se referia da questão da falsa informação e das criticas infundamentadas da parte de vários internautas.

    Eu também sou contra a censura, sem dúvidas, e como disse cada um tem o direito de resposta, mas até o momento em que uma informação começa a gerar falsas crenças.

    Opa! Falou tudo ali! Eu também estou de pleno acordo que uma pessoa que se especializou em determinado assunto possa aprender com alguém que não possui a devida formação. Já presenciei muito disto no meu convívio na faculdade, é muito frequente até..

    Quanto ao fato de grupos e comunidades virtuais que apoiam ou idolatram certo assunto é bastante variável a opinião que tenho. A partir do momento em que um grupo é baseado em amantes de algo (como miniaturas) é comum, é bacana e há um envolvimento por parte da galera em assuntos que lhes são agradáveis. Isso vale também para as páginas de estudo e informação que vejo em montes, pois a discussão gerada sempre é construtiva para ambas as partes, a de quem publica e a de quem comenta. Agora existem alguns grupos que são voltados ao pleno escárnio de uma série de pessoas, como por exemplo as páginas e vlogs de humor negro, que se mantem sob a ridícula política de "se acha ruim não acesse" e tals (pois caso assim, não estaria em exibição pública e sujeito a compartilhações, é o mínimo do princípio moral e ético).

    Por isso, meu argumento pode ser semelhante ao de alguém que prega pela censura, mas mesmo assim não irei saindo por aí pedindo que parem com a palhaçada e busquem aprender a tirar melhor proveito dessa ferramenta de uso. Apenas expus minha opinião sobre alguns casos que vejo por aí, que acho inconcebível.

    Também espero que a internet seja utilizada um dia para o bem e para a divulgação de conteúdo de qualidade, sempre aberto a críticas, mas nunca encerrado sobre a aprovação de um falso-expert (e pelo dinamismo científico, nem mesmo por um expert de verdade, hehe).

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  4. Com advento da internet e sua alcunha de aldeia global o ser humano, que é um ser social e gregário, busca cada vez mais na grande rede uma forma de pertencer a um grupo ou um clã. A questão é que poucos estão conscientes das implicações que esse novo paradigma cibernético trouxe para a cultura, no geral.

    No conglomerado de opiniões e dados digitais, as pessoas, bombardeadas pelo excesso de informação, sentem uma espécie de opressão ontológica. O medo de perder a identidade na rede faz o ego emergir em um impulso narcisístico, fazendo as pessoas participarem na internet de forma quantitativa e não qualitativa. O que importa é exaltar a própria insipiência na forma de auto-afirmação e egolatria, vide o quão importante é para algumas pessoas receberem "curtidas" e demonstrações de aprovação.

    Para alguns essa "roda de samsara" durará ainda por longo tempo, retroalimentada por um sistema de recompensa gerado por um reforço positivo. Cada vez que um indivíduo é reconhecido ou percebido no grupo ele evita a dissolução do ego na rede recebendo um estímulo para permanecer no mesmo comportamento. Um verdadeiro ode ao vazio existencial do início da era pós-moderna.

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