Há muitos anos atrás, nasceu uma garota chamada Existência.
Existência veio ao mundo com o fluir da vida, há bilhões de anos, mas
só de uns duzentos mil anos para cá, é que ela vem tentada pela necessidade de
conhecer a si própria.
Onde quer que vá, depara-se com uma questão agonizante:
“O que és, oh Existência?”
Em crise, Existência decidiu seguir viagem, em busca de respostas que
lhe trouxesse o sentido que queria.
Em sua busca conheceu muitos aliados, que se caracterizavam em linhas de pensamento.
A Filosofia Antiga, que tentava ajudar dando-lhe a curiosidade sobre
a natureza primeira das coisas, e chamando a isso de metafísica.
Encontrou culturas e religiões, como o Budismo que contava a Existência
sobre a busca pela paz interior, e a relação entre o indivíduo e os fatores
externos.
Sempre ouvira falar de paz, mas nunca entendeu a fundo o que seria
ela realmente.
Alguma divindade? Um estado de consciência?
Budismo, falava muito de um indivíduo, um tal de Materialismo, que
deveria ser preso por corromper a essência da vida.
A procura de sua verdade absoluta, Existência encontrou uma outra
vertente filosófica, mais moderna essa, que conceituava o indivíduo como um
todo. Seu pensamento, suas atitudes, seus anseios... Orgulhosa ela se
autodenominava de Existencialismo.
Mas Existência queria algo maior.
Queria ela encontrar uma verdade única, e não apenas divergências de
pensamentos entre épocas e culturas.
Queria ela entender a morte, a guerra, a miséria, e o crime.
Queria ela compreender de onde vinha a vontade de viver, em meio a
tudo isso.
Junto dela caminhava sua escudeira. A Dúvida.
Existência se cansou de Dúvida, e resolveu dispensá-la.
Estava irritada demais, e Dúvida só aumentava aquela irritação.
Sentiu-se mais aliviada depois disso, e começou a analisar melhor cada
coisa que havia aprendido em sua andança.
Contudo ainda sentia que Dúvida a perseguia, de alguma maneira.

Certa vez, existência encontrou uma velha senhora.
Achava tê-la visto em muitos outros lugares, mas só agora vinham de
encontro.
- Como vai, doce, mas impura Existência?
- Como sabes meu nome?
- Você me procura, mas ainda desconhece isso.
- Quem és?
- Aquilo que procuras.
- A resposta infindável, dona de minha angustia?
- Não sou uma resposta, sou aquilo que você precisa enxergar.
- Preciso de respostas, e não de uma visão aperfeiçoada.
- Tens respostas, mas não sabe o que fazer com elas.
Não segues um padrão.
Não procuras por um caminho.
- Se tivesse a resposta que preciso, não estaria eu incansavelmente
procurando-a.
- O que queres encontrar?
- Quem és?
- Não vais sentir a paz, se não souber o que procuras.
- O que és a maldita paz?
- Aquilo que tu não tens.
- O que eu não tenho?
- As respostas que não procuras.
- Oh, miserável, deixai-me.
- Não a deixarei, por que precisas de mim.
- Não preciso de mais nada, talvez o que procuro não seja a resposta
que idealizo, por essa não existir sozinha em um universo de sabedorias.
- E vais deixar de procurar?
- Não, vou continuar a minha busca, mas agora encaixando cada pedaço
conveniente que eu considerar.
- Já deste um sentido para sua busca.
- Abriste meus olhos, mas e se minha busca cessar?
- Conheces minha amiga Perfeição?
- Muito praz...epa, o que é isso?
Não consigo tocá-la.
- A perfeição não se materializa, és ela uma ilusão. Não podes
tocá-la, mas podes senti-la.
Procure-a e sua busca jamais cessará.
- E por que devo buscar algo que sei que não encontrarei?
- Você não sabe, és burra o bastante para continuar a tentar tocá-la,
veja...
E assim sendo, o seu sentido, o seu propósito jamais morrerá.
A velha senhora saia, quando Existência voltou a lhe indagar:
- Quem és?
A velha senhora virou-se dizendo:
- Aquilo que todos procuram, mas não percebem quando estou em pequenas
coisas. Me pensam como divindade, que esta em tudo, mas sou parcial, e nunca
algo pleno.
Se me queres, terás que aprender a dividir com outras sensações, e
saber como tornar-me válida em meio a elas.
- Compreendo... acho. Talvez seja como a...FELICIDADE??????
- Muito prazer.
Existência segue, rumando o horizonte, ainda procurando pela
compreensão de si própria.
Tenta desvendar a morte, mas antes quer entender a vida.
Tenta compreender a guerra, agora que já conhece o conceito de paz.
E assim, deu ela ao menos um sentido ao que procura.